segunda-feira, 14 de março de 2011

Buscando a independência

Se desprender muitas vezes do seu próprio sentimento e da sua vontade em certo momento é importante para ensinar as crianças a crescerem. (Isso quando você também tem que aprender...). Difícil impor limites e situações em que esses meninos possam se deparar com desafios a serem superados, quando você deseja protegê-los e ajudá-los a todo instante. Ser firme -- e não dura -- com um combinado anterior, é necessário para criar uma relação de independência e confiança entre grandes e pequenos.

A primeira semana dos meninos na escola francesa foi bem melhor que o início da segunda, motivo desta reflexão. Hoje de manhã, depois de um final de semana repleto de atividades, os dois ficaram chorando, tristes com a despedida. E eu, destruída. O menor disse até que estava com dor de barriga para não ir para a escola. Conversei com ele e, apesar de não ter absoluta certeza da existência da dor, percebi que nem ele tinha certeza e nos despedimos: ele aos berros e eu dizendo que voltava mais tarde.

Relatei a situação para a professora e fiquei mais tranquila. O mais velho, quando passei (escondida, é claro) novamente pela sala, não apresentava mais os olhos chorosos. Sei que se trata de uma situação muito nova para eles, já que ainda não falam francês, e que da mesma forma que é difícil para um adulto estar em outro país de cultura diferente, é também para uma criança, mas não posso simplesmente ceder diante do primeiro choro.

Venho sendo “pedagógica” porque percebi que as crianças francesas estão um passo à frente em termos de independência do que as brasileiras. Isso porque comem de garfo e faca, se vestem sem ajuda, vão ao banheiro para o “número 2” sozinhas. Para os meus filhos, confesso, tudo isso é novo porque eles sempre tiveram alguém - uma babá ou os pais, tias, avós - para fazerem isso. E não quero que eles fiquem se sentindo mal por não terem essas habilidades.

Algumas vezes, eles me relataram que preferiram não ir ao banheiro, porque não saberiam se virar sozinhos... e também que todos os amigos comiam de garfo e faca. Então, fizemos um combinado de treinar tudo isso em casa, apesar de eles quase sempre não estarem dispostos a aprender.

Estresse aqui em casa se chama desabotoar e abotoar a calça, calçar as meias e os sapatos, vestir a camisa.... Porque eles querem que eu faça tudo por eles! Claro que, para mim, é muito mais fácil e menos estressante fazer logo tudo e acabar com a confusão. Mas venho preferindo o mais difícil, a pedagogia, mesmo que eles chorem, duvidem do meu amor, me chamem de chata, digam que a França é chata e me tirem a paciência com chantagens e "só se".

Sinto que estou fazendo a coisa certa, ao mesmo tempo em que me sinto insegura pela possibilidade de estar exagerando, de não estar acolhendo o seu sofrimento diante do novo momento. E se a dor na barriga era realmente verdadeira?

Isso eu não sei, talvez seja um ensinamento, constatação, exemplo para outro post e para minha vida de mãe. Vamos ver.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Gagueira infantil

Incentivada por uma amiga, que encontrou na internet essa matéria que eu fiz em 2009, vou compartilhá-la no blog. Trata da gagueira, um tema que aflige muitos pais.


Superando a gagueira

O tratamento para gagueira deve ser feito com fonoaudiólogos ainda na infância, quando aparecem os primeiros sinais da disfluência, como repetições de início e bloqueios.

PAOLA VASCONCELOS
Publicada em 20/12/2009, no Viva, do Jornal Diário do Nordeste


O indivíduo que tem gagueira sempre foi motivo de chacota e piada pela sociedade. Muito mais do que um problema emocional, a gagueira é uma doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que, se for detectada e tratada de forma precoce, pode ajudar a mudar essa realidade.
Estima-se que 1% da população mundial sofra desse transtorno. No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), ele afeta 5% dos habitantes, o equivalente a 9,5 milhões de pessoas. E 1% dos brasileiros gaguejam de forma permanente e há muito tempo.

Os primeiros sinais da gagueira acontecem durante a infância, por volta de dois anos e meio a três anos de idade, justamente quando acontece o desenvolvimento da fala.

A fonoaudióloga Lia Brasil Barroso, coordenadora do Curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza (Unifor) explica que não existe uma causa definida para a gagueira e que fatores como hereditariedade e meio ambiente podem contribuir para o desenvolvimento do problema. De acordo com ela, já foi identificado um gene da gagueira, o que reforça os fatores hereditários para o surgimento do distúrbio. No entanto, a fonoaudióloga destaca que nem todas as pessoas que possuem o gene desenvolvem a gagueira, o que reforça também a questão ambiental, que envolve as condições em que o indivíduo vive.

"Existem estudos que mostram que a gagueira pode acontecer no primeiro filho, provavelmente pelo exagerado grau de exigência e atenção em torno dele ou ainda no último filho, que recebe menos atenção dos pais, aquele que se cria sozinho. Assim como a imitação da fala pela convivência com uma pessoa com o distúrbio, essas são demonstrações de como o meio ambiente pode influenciar na gagueira", destaca.

O fato, segundo Lia Brasil Barroso, é que sabe-se que o problema é causado pela falta de sincronia entre os dois hemisférios cerebrais e que o fator emocional sozinho não é determinante para o aparecimento da gagueira. "O fator emocional é agravante para quem tem predisposição genética para a gagueira, mas sozinho não causa o problema".

O importante, conforme a coordenadora do curso de Fonoaudiologia da Unifor, é fazer uma intervenção precoce, caso apareçam sintomas como repetições de início, bloqueios e prolongamentos por um período maior do que três meses entre 2 e 4 anos de idade. Lia Brasil alerta também que junto com essas manifestações podem acontecer tiques, como piscar de olhos, tremores, puxadas de cabeça acompanhando o ato da fala.

Linguagem

É comum as crianças enfrentarem períodos de disfluência, durante os quais elas repetem palavras não por serem gagas, mas, segundo ela, por estarem em fase de estruturação da linguagem. "Essas repetições são esporádicas e devem desaparecer com o passar do tempo. Quando a criança é gaga, as repetições são frequentes e tendem a se agravar, enquanto não houver tratamento", alerta.

Por conta da aquisição de linguagem nessa faixa etária é comum a criança apresentar manifestações de gagueira, repetindo palavras, tendo bloqueios. Se estes persistirem por mais de três meses, conforme Lia Brasil, é importante que os pais estejam alerta e busquem uma avaliação com um fonoaudiólogo. "A gagueira não tem cura, mas desde que se faça uma intervenção precoce é possível obtê-la em crianças. Intervenções tardias ajudam a pessoa gaga a obter uma melhor qualidade de vida, mas sem cura", explica.

Bloqueios, repetições e prolongamentos da fala com muita frequência podem ser indícios de gagueira e, conforme a fonoaudióloga é nessa hora que os pais devem procurar um profissional para avaliar a situação.

Lia Brasil Barroso explica que na avaliação o fonoaudiólogo vê a fluência da criança, linguagem, a motricidade oro-facial e a voz. Nas crianças acima de sete anos, a observação inclui também um exame audiológico. O tratamento, de acordo com Lia Brasil, inclui sessões de terapias individuais e em grupo com profissionais especializados. Um dos locais que dispõe de ambulatório para disfluência é o Núcleo de Atendimento Médico Integrado (Nami), da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Mudança cerebral
O problema central na gagueira consiste em uma dificuldade do cérebro para sinalizar o término de um som ou uma sílaba e passar para o próximo. Desta forma, a pessoa consegue iniciar a palavra, mas fica "presa" em algum som ou sílaba (geralmente o primeiro) até que o cérebro consiga gerar o comando necessário para dar prosseguimento com o restante da palavra. Acredita-se, conforme o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), que as estruturas cerebrais envolvidas com a gagueira sejam os núcleos da base, os quais estão envolvidos com a automatização de tarefas, como dirigir, calcular, escrever, falar. Portanto, a dificuldade central na gagueira estaria em uma automatização deficiente dos movimentos de fala.



O IBF explica que existem pesquisas com neuroimagem funcional demonstrando que a terapia fonoaudiológica promove mudanças na maneira como o cérebro processa a fala. Isso significa que, após a terapia, algumas regiões cerebrais estão mais ativadas e outras menos ativadas.

As melhoras obtidas tanto na fluência da fala em si, como na forma de lidar com a gagueira, são decorrentes das mudanças funcionais no cérebro ocasionadas pelas técnicas de terapia fonoaudiológicas.

Abrangência

1% Da população mundial sofre com a gagueira. Os primeiros sintomas da disfluência aparecem durante a infância, entre dois anos e meio e quatro anos de idade

9,5 Milhões de pessoas no Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), são afetados pela gagueira, que se for tratada precocemente, ainda na infância, pode ser superada


Herança genética


Cerca de 55% das pessoas que gaguejam têm pais, irmãos, filhos, tios, primos, avós e ou netos com gagueira, conforme dados do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF). A tendência para a gagueira é transmitida por um gene que já foi mapeado. No entanto, nem todas as pessoas que têm o gene desenvolvem o distúrbio da gagueira. A manifestação do problema sempre dependerá da interação com o ambiente. A maior parte dos estudos genéticos indicam a possibilidade de a gagueira ser transmitida por herança poligênica ao invés de gene único, o que quer dizer que haveria alguns poucos genes responsáveis pela gagueira e não apenas um só. A genética influencia de modo marcante na tipologia da gagueira e as manifestações da disfunção entre parentes geralmente são semelhantes.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Como é difícil lidar com sentimentos!

Lidar com os nossos próprio sentimentos não é fácil. Imagine para um pedacinho de gente que ainda está se descobrindo. Aqui em casa, tenho um rapaz que "sofre" e outro que se "enfurece". (Não estranhe as adjetivações, não se trata de situação pejorativa, mas de manifestações normais da personalidade....).

O meu mais velho tem uma tendência a supervalorizar pequenas situações como se fossem o fim do mundo, uma drama mexicano, com lágrimas, sofrimentos, lamentações e tudo mais.  Fica chateado e consegue expressar o que sente com palavras, o que é ótimo. Depois de um chororô, já está alegre novamente e volta tudo ao normal.


O mais novo fica enfurecido. Quer bater, jogar os objetos no chão, grita, esperneia, me chama de "chata, baixinha, gorducha".... Fica com tanta raiva que até cansa. Ele ainda não sabe lidar muito bem com a raiva (Ok, eu também, no alto dos meus 30, ainda não aprendi!). Não consegue se controlar. Bate no irmão, no amigo, chora de arrependimento. Quebra um brinquedo e depois quer voltar atrás.

Nas duas situações, tenho uma tendência a ser firme -- às vezes até demais -- mas isso tem gerado bons resultados. Repito o mantra: se está com raiva, chateado, triste, tem que conversar para resolver. Isso vale também na hora da briga.

O resultado, eu sei ,é lento, no entanto, progressivo. Hoje, tenho bem menos espetáculos de birra para administrar. Sempre que acontece uma situação em que algo que não foi legal aconteceu, conversamos antes de dormir. Eles reconhecem e prometem não repetir. Não que isso vá acontecer imediatamente, mas ele vai  lembrar, em outro momento, que aquilo que fez não foi legal nem para ele nem para ninguém.

Uma forte aliada que eu utilizava eram as "histórias de boca", que eu mesmo criava, envolvendo personagens com nomes diferentes, mas que passavam por situações parecidas. Mas eles já descobriram que os personagens eram eles.  Agora, por indicação da psicóloga da escola, encontrei uma coleção de livros que fala sobre os sentimentos. Aborda raiva, alegria, tristeza, medo de uma forma muito próxima da criança e com ilustrações representativas.

Sempre que a situação pede, recorro a eles na leitura antes de dormir. Enquanto um se identifica com as situações e comenta, numa forma de reflexão, o outro diz que não quer falar sobre o assunto, mas ouve atento, faz perguntas, só não fala de si mesmo.

O resultado após a leitura é bem interessante, por isso recomendo os livros para ajudar. Afinal,  não se trata de querer mudar a personalidade dos filhos, mas de ajudá-los a entender melhor o que acontece com o nosso corpo quando esses sentimentos nos invadem.



Coleção Sentimentos-Jane Bingham
Todo mundo sente raiva
Todo mundo sente tristeza
Todo mundo sente alegria
Todo mundo sente medo

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mochilas nas costas

A vida dá muitas voltas. E, normalmente, ela dá tão rápido que não conseguimos acompanhar. Estamos na expectativa de passar seis meses fora do Brasil. E, junto, claro, com meus rapazes, que já estavam até matriculados na escola, mas agora serão cidadãos do mundo. 

Depois de uma correria para tirar passaporte, carteira de identidade, tomar vacina de febre amarela, entre outras inúmeras que não cabe citar neste momento, estou na fase de me preocupar como vai ser para eles morar em outro país de língua diferente, frio, longe da vovó, do vovô, dos primos, dos tios, dos amigos da escola....

Acho que vai ser difícil no início, como será para toda a família, mas tive pensando, incentivada pela experiência de outras pessoas, que o melhor lugar para eles é ao lado do seus pais, seja onde for, no Brasil, na China ou na França.

Para mim, então, será uma experiência materna diferente e muito enriquecedora. Isso porque estou acostumada a ter sempre uma "ajudante" em casa, não só para as tarefas domésticas como também em atividades com as crianças.  Vou até gravar um quadro do programa do Faustão.... o se vira nos 30.... porque eu acho que é exatamente assim que deve ser administrar a vida de três rapazes, sendo um deles adulto. Pois é, tá faltando alguém aí. E eu também, claro.

O fato é que acho que será a hora de todos, inclusive os pequenos, também ficarem bem mais independentes. Tenho consciência de que, muitas vezes, exagero nos cuidados com isso, com aquilo, enfim, não deixo a própria experiência dos acontecimentos lhes darem um pouco mais de independência. Me incluo neste grupo, com certeza, porque sempre procuramos muletas para nos apoiar, queremos resolver tudo da forma mais fácil, cômoda e rápida.

Por que não deixar as crianças tomarem banho, escolherem e vestirem a roupa, calçarem as meias e os sapatos sozinhas, mesmo os mais pequeninos? Confesso que na correria do dia queimo etapas. Nesta viagem, devo contar com a ajuda deles mesmos para ensiná-los a tomar conta um pouco da própria vida. Vai ser muito bom para mim e mais ainda para eles.