segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sobre as novas mães reféns de babás

Quando eu era pequena, lembro-me que nunca, nem eu nem as minhas outras duas irmãs ou ainda os meus primos, tivemos babá, nesses moldes que conhecemos hoje, de uma pessoa exclusiva para estar ao lado em cada respiração que a criança der. Minha mãe e meu pai sempre trabalharam, tinham vários empregos e a gente ficava em casa com uma pessoa que atuava muito mais como uma secretária do que propriamente babá.

Quando os meus meninos eram menores, as babás eram motivo de verdadeiros dilemas. Hoje, gracias!, não são mais. Mas ainda me assusto e tento não julgar aquelas mães que têm as babás como pessoas até mais importantes do que os próprios filhos.  Meus filhos têm babá, uma pessoa que me ajuda em casa  ou quando estou trabalhando e de quem nós gostamos muito. Mas, quem cuida é a mãe e o pai deles. A referência somos nós!

O fato é que, conversando com uma amiga casada com um pediatra, várias reflexões surgiram, a partir de relatos de comportamentos rotineiros entre as mães modernas. Mães inseguras relatando que se não for como a babá faz, o filho não dorme, não come, não brinca.... E elas acreditam! Não conhecem nem o próprio filho e ficam reféns de uma pessoa que deve ser uma solução e que acaba virando um problema.

Outra: delegam tarefas de responsabilidades, como levar ao médico, para fazer exames ou ainda administrar remédios sem uma orientação, a outras pessoas. Ou ainda não mantém nenhum contato com a criança e transferem o convívio doméstico e social para a babá. De mãe mesmo, só o nome.

Uma vez levei o meu filho menor a uma consulta médica e, assim que entrei no consultório, o doutor me perguntou se "eu" não tinha babá, se eu tinha vindo sozinho com ele.  Eu disse que tinha babá sim, mas que  ela não estava ali. Imagino que ele se espantou com a situação: uma jovem mãe sozinha com seu filho, sem uma bábá para segurar a sacola ou ficar com o menino enquanto ele conversava comigo... Nossa sociedade está repleta de fórmulas prontas, estereótipos, vícios. Criamos novas necessidades e também novos problemas. 

Outro dia, fui a um aniversário que, além da lembrancinha da criança, a babá também ganhava uma personalizada. Por que os pais também não ganham, eles não merecem? Não desmereço em nenhum momento o papel dessas pessoas que têm a tarefa árdua de cuidar dos nossos filhos enquanto estamos ausentes ou que nos ajudam em casa. Mas acho que as mães estão dando uma importância demasiada à terceirização do cuidado com as crianças, ao invés de se preocupar em participar.

Eu mesmo, faço essa autocrítica. Às vezes, me pego restringindo passeios, viagens ou alguma tarefa porque a babá não pode ir ou porque não quero ter o trabalho de ir sozinha com duas criaturas que não param um minuto sequer. As experiências que tive consomem a paciência, mas não são terríveis e resultam até em bons momentos. É claro que é difícil, mas tem que existir.

Então, ficamos pensando: as mães de hoje, na qual me incluo entre elas, não estão preparadas para assumir de fato a tarefa prazerosa e trabalhosa de cuidar dos filhos? Esses jovens modernos, pais e mães que trabalham muito e têm muitas responsabilidades não querem ter trabalho dando banho, alimentando, cuidando, brincando, colocando para dormir, administrando birras, acordando de noite quando os pequenos estão doentes??... É, não é fácil mesmo!

A nossa conclusão foi que é mais fácil "terceirizar" para a babá, principalmente quem pode pagar por essa estrutura, do que colocar realmente a mão na massa. Em compensação, perdem  momentos maravilhosos, diminuem a confiança entre pais e filhos, fragilizam desde cedo uma relação cujo fortalecimento acontece na infância. As mães não querem ter o "trabalho" de cuidar dos filhos, que não têm culpa dessa situação e aprendem desde cedo que carinho, atenção e amor podem ser terceirizados. Definitivamente, não dá para terceirizar um abraço, um cheiro, o olho no olho, as mãos dadas.